– Então deixa eu entender.
– Humm?
– Você está, oficialmente, dando uma chance pro tímido.
– Exatamente.
– Por quê?
– Porque eu me sinto no controle.
– Explica, quero entender.
– Quando a gente flerta, tudo que eu preciso fazer é mandar os sinais corporais certos e esperar ele reagir segundo a minha vontade.
– Meu Deus, você é uma manipuladora!
– Hahaha. Sou nada! Eu só me sinto segura desse jeito, é simples assim.
– Hummmmmmmmm…
– O quê?
– Segura? Será?
– Explica você, agora.
– Hummmmm… Como chama aquele outro menino?
– O Edu?
– Isso. O Eduardo. Por que você gostava dele mesmo?
– Ah… Ele é diferente.
– Como?
– Eu não faço esforço consciente. Ele fala comigo e o ar fica pesado na hora.
– Pesado?
– Tá. Pesado não. Sei lá. A gente se conheceu pela internet e já rolava aqueles comentários com entrelinhas perigosas.
– Perigosas?
– Sim. Depois a gente se conheceu pessoalmente por causa de um amigo em comum.
– E o que você sentiu?
– Eu perdi o ar. Olhar pra ele é bom… Conversar com ele também é…. Mas o jeito que ele me olha enquanto conversa comigo é… Uou, não dá nem pra explicar!
– Hummmm…
– O nível de tesão é 8,5. Tem picos de 9,9 facilmente.
– E o tímido… Como chama mesmo?
– Guilherme.
– Qual o nível de tesão?
– 7,5. Raros picos de 8,5. Mas ele é doce, divertido, cavalheiro… O Gui me acalma, o Edu me acelera.
– Com quem você se sente mais à vontade?
– O Edu me deixa à vontade porque não fica me perguntando as coisas ou me consultando toda hora. Ele diz “vamos pra tal lugar” em vez de “pra onde você quer ir?”
– O Gui não faz isso?
– Não. Ele é uma gracinha. Abre a porta do carro e tudo.
– Mas…
– Mas…
[ silêncio ]
Pessoas controladoras têm um fraco mortal por pessoas que sabem controlá-las.
Continuou.
– …mas não sei se eu quero que ele abra a porta do carro.
– Quer o quê?
– Que ele olhe pra mim como se estivesse me mandando abrir as pernas.
– Óbvio que é assim com o Edu. Você gosta dele.
– Gosto nada. É só tesão, eu não me apaixonaria por ele.
– Mas só pensa nele.
– Hummmmmm.
– Você acha que flerta quando é você quem toma as titudes, mas não é só assim que funciona.
– Conta mais.
– Quando você aceita uma provocação, está flertando. Você pode muito bem não responder quando ele diz “oi”… Pode muito bem bloquear o menino no MSN… Mas você dá corda. Ele te instiga, Isa. E cada vez que ele te abraça e você gosta, você está flertando. Quando ele é grosso e você fica bravinha, você está flertando. Você não tem controle do que sente por ele, e gosta do controle que ele tem sobre você…
[ silêncio ]
– Não gosto de ficar indefesa.
– Isso não é ficar indefesa. É ficar vulnerável. E é normal.
– É novo pra mim.
Vrrrrrrrrrr. O celular, que estava sobre a mesa, vibra.
* 2 Novas Mensagens *
Leu a primeira e sorriu de um jeito doce.
Leu a segunda e sorriu com o canto da boca.
– Olha isso. “Passei em frente a Casper, lembrei de você. Mas não preciso de muito pra pensar em você, mesmo… Beijo.”
– Que gracinha. E a outra, do Edu?
– Sou tão previsível assim?
– Eles é que são.
– Festa de aniversário dele amanhã. A mensagem: “Não esquece do meu presente: você num vestido vermelho e cabelo preso.”
– Qual você vai responder?
– Hummmmmm…
Ela colocou o celular de volta na mesa e não respondeu nenhuma. Era uma mulher decidida, era ridículo escolher entre dois caras. Não era?
Laura voltou pra casa dela e Isabela ficou uns 20 minutos pensando que o Gui merecia uma chance.
Falou pra si mesma que não deixaria um cachorro controlador entrar em sua mente.
Isso mesmo! Não ia permitir que um cara — por mais intrigante, sedutor e narigudo que fosse — deixasse-a vulnerável.
Era ela quem mandava. Era ela quem dava as cartas. Era ela quem deixava os caras subindo pelas paredes, não o contrário.
Encheu a taça com vinho tinto e bebeu de uma vez só, enquanto ouvia Piazzolla.
Pegou o celular. Leu novamente cada uma das 93 mensagens nas caixas de entrada e saída.
“Você é racional, garota. Você é racional, garota. Você é racional, garota…” Quase um mantra pra si mesma.
Ela não teria tempo de transformar aquela mentira, por mais vezes que fosse repetida, em verdade…
Pegou o celular e digitou.
“Preciso de ajuda!”
A resposta veio quase instantaneamente.
“Ajuda? Por quê?”
“Tô em casa, sozinha, e preciso de ajuda. Em qnto tempo vc chega aqui?”
Nenhuma resposta. Exatamente como ela esperava. O interfone do prédio tocou depois de 20 minutos. Tempo suficiente pra colocar o tal do vestido vermelho, meia 7/8 preta, prender o cabelo e uma maquiagem que deixava seu olho mais claro.
DING DONNNNG.
Respirou fundo antes de abrir a porta.
Ele mal respirava.
– Que bom que você veio.
– Você parecia desesperada.
Estrou hipnotizado.
– É que eu precisava testar a maquiagem pra festa de amanhã.
Ele sentou no sofá.
— Umhummm.
Ela sentou sobre ele, tomando seu rosto com as mãos.
– Acontece que o ziper — um beijo na testa dele — do meu vestido — outro na ponta do nariz — travou. Não dá pra abrir.
Beijou o pescoço dele de leve, enquanto soprava em seu ouvido.
– Você pode, por favor, — fez a carinha mais inocente que sabia fazer — me ajudar a abrir?
Ele rolou com ela até trocarem de posição. Ela embaixo, ele em cima.
Isabela ficou assustada com a reação, esperava que ele fosse mais delicado.
O nível de tesão com ele chegou a 10!
Claro, como um bom cavalheiro, ajudou-a.
Primeiro, com o ziper do vestido… Depois com as meias 7/8… Ajudou com o tapete da sala, limpo demais… Com a roupa de cama, arrumadinha demais…
Tentou ajudar com o apetite dela, mas este era insaciável demais!
Depois de umas 2 horas de ajuda mútua, ele teve que ir embora.
– Amanhã a gente se vê na festa.
– Sim, senhor.
O último beijo na porta, entre sorrisos bobos.
– E obrigada pela ajuda.
Ele sorriu.
– Eu jamais deixaria uma dama em apuros. — Outro beijo com gosto de quero mais. — Boa noite, Isa.
– Boa Noite, Gui.
Ela definitivamente não se arrependera de se entregar aos desejos do seu “eu” manipulador, controlador e auto-protetor.
E definitivamente se surpreendeu com o menino tímido.
-
Edu pegou o celular e viu que tinha uma mensagem não-lida. Quem mais mandaria mensagens às 2:15 am? Só podia ser…
“Te vejo daqui 20 horas. Meu vestido está delicioso. Isa”